por Perilo Borba
“Roguei a Tito e enviei com ele outro irmão; porventura, Tito vos explorou? Acaso, não temos ANDADO NO MESMO ESPÍRITO? Não SEGUIMOS NAS MESMAS PISADAS?” (II Coríntios 12.18).
O apóstolo Paulo destacou que Tito andava no mesmo espírito que ele e também seguia as mesmas pisadas. Tenho aprendido que, no caminho por onde estamos indo, exercendo a liderança, precisamos não somente deixar pisadas para serem seguidas, mas também compartilhar o espírito, a atitude com a qual estamos trilhando esse caminho.
Um liderado leal e submisso é aquele que não apenas segue as mesmas pisadas, mas desenvolve também o mesmo coração, sentimento ou atitude que a sua liderança possui. Para isso, ele precisa “considerar atentamente o resultado de vida do seu líder e imitar a fé que ele tem” (Hebreus 13.7), “seguindo-o de perto” (II Timóteo 3.10) e desenvolvendo um bom relacionamento para que tenha o seu caráter provado, através do serviço “como de filho ao pai” (Filipenses 2.22).
Dou graças a Deus pela liderança que tenho. O Ap. Guto Emery e toda a diretoria do MVV seguiram de perto o Ap. Bud Wright e têm não só seguido as mesmas pisadas dele, como também mantido o mesmo espírito.
Estou desde criança na Igreja Verbo da Vida, na qual já servi em vários departamentos e, há 15 anos, trabalho de forma integral no ministério. Nesse breve tempo, eu já vi, infelizmente, muitos irmãos — referindo-me especificamente a líderes e ministros — abandonarem o nosso ministério e, alguns, o plano de Deus para a vida deles, por deixarem de seguir as mesmas pisadas da nossa liderança. Seja por falta de submissão e obediência para fazer as mesmas obras, imitando a fé, o procedimento, os princípios e regras institucionais estabelecidas; ou por terem seguido por caminhos tenebrosos de pecado, não andando nas mesmas pisadas de moralidade e integridade que há numa vida de santidade e consagração intensa.
Contudo, outros também ficaram para trás, desperdiçando as oportunidades divinas concedidas a eles porque, embora estivessem seguindo as mesmas pisadas (práticas), não mantiveram o mesmo espírito, a mesma atitude de coração. É justamente sobre isso que quero focar nesta mensagem.
PARTE E DIREITO NESTE MINISTÉRIO
Em Atos 8, durante o grande avivamento que aconteceu em Samaria, um homem chamado Simão abraçou a fé e passou a seguir de perto a Filipe. Algum tempo depois, Pedro e João foram até lá e impuseram as mãos sobre os convertidos para que recebessem o Espírito Santo.
Nesse ínterim, ao ver as pessoas orando em outras línguas e todas as reações espetaculares ao batismo e mover do Espírito, Simão foi oferecer dinheiro aos apóstolos, não apenas com o intuito de receber aquele dom, mas principalmente de transmiti-lo. Ele queria fazer o mesmo papel dos apóstolos de impor as mãos sobre as pessoas para que elas fossem cheias do Espírito.
Ele foi duramente corrigido por Pedro, não só pelo fato de querer “comprar a unção”, mas, sim, pelo “intento do seu coração”. Sabemos que todo aquele que crê pode não somente receber o batismo no Espírito Santo, como também ser um transmissor dele. O problema era o que estava oculto no coração de Simão para desejar aquilo.
No contexto, Lucas deixa claro que Simão era alguém famoso por suas mágicas, tinha muitos seguidores e era o centro das atenções ali em Samaria, até a chegada de Felipe. Quando a Palavra começou a ser pregada e os milagres e curas aconteceram, o status e a credibilidade de Simão caíram bastante.
Talvez, a motivação dele estava apenas em ter de volta a sua fama, ser novamente alguém “importante ou procurado” pelos outros. Acredito que, por isso, Pedro foi tão enfático: “Não tens porção e nem direito neste ministério, pois seu coração não é reto diante do Senhor” (Atos 8.21). Em seguida, ele é aconselhado a se arrepender daquele intento do seu coração.
Sei que Pedro estava falando do ministério da Igreja de forma geral, o ministério do Espírito Santo, da nova aliança, a continuidade da missão de Jesus Cristo sobre a terra através do Seu Corpo. Entretanto, podemos pegar esse mesmo princípio para o nosso ministério (instituição), já que somos parte da Igreja e temos esse mesmo serviço sobre a terra.
Muitos homens e mulheres de Deus, com tanto potencial e promessas divinas, perderam-se no meio do caminho, enquanto seguiam de perto as mesmas pisadas, porque não mantiveram o mesmo espírito (coração) da nossa liderança. Assim, infelizmente, deixaram de ter a sua porção e o seu direito no Ministério Verbo da Vida. Alguns, graças a Deus, arrependeram-se, consertaram o coração e tiveram a sua parte novamente restaurada. Outros desviaram-se completamente do plano de Deus, como Simão, pelo que sabemos de outros escritores e estudiosos da história da Igreja.
De fato, o espírito com o qual fazemos algo é tão essencial quanto o que fazemos. Essa “disposição ou influência que governa a alma de alguém” (dicionário Strong), a atitude do nosso coração é fundamental para o exercício do ministério. Vemos isso ao longo de toda a Bíblia. Deus sonda os corações e Ele “não vê como o homem vê” (I Samuel 16.7). O Senhor levanta pessoas por causa do coração.
No ministério de Paulo, em suas cartas, vemos ele citar irmãos que acabaram seguindo pisadas diferentes, além de outros que tiveram atitudes contrárias às do apóstolo e, por isso, também o abandonaram ou não tiveram mais o direito de fazer parte da sua equipe ministerial.
Porém, quero focar a seguir nos exemplos bons, especificamente, o do próprio Tito, citado pelo apóstolo no texto que usamos como base para esta mensagem, como também de Timóteo.
AS PISADAS E O CORAÇÃO DE PAULO
Antes de falar sobre qual era esse “mesmo espírito” de Paulo que eles seguiram, quero resumidamente destacar também algumas das suas pisadas como líder, especificamente duas delas: “trabalhei muito mais do que todos” (I Coríntios 15.10) e “oro em línguas mais do que todos” (I Coríntios 14.18).
Como líderes, devemos nos examinar para ver se estamos deixando essas pisadas, como alguém que deixa as marcas do seu pé durante a caminhada na areia e outros podem seguir pelo mesmo caminho. Estamos trabalhando mais do que nossos liderados? Temos uma vida de oração mais intensa do que a deles? Afinal, é responsabilidade do líder ser modelo e inspiração para quem o segue.
Outras pegadas deixadas pelo apóstolo Paulo foram a sua fé, sua abnegação e amor, ousadia e sabedoria no falar, integridade e santidade, além de regras que ele mesmo estabeleceu em seu ministério ou para sua equipe ministerial, como por exemplo a que levou Timóteo à circuncisão.
Timóteo não somente seguiu as mesmas pisadas, submetendo-se também aos mesmos princípios e regras, como, muito mais do que todos os outros, seguiu também a mesma atitude de coração do apóstolo Paulo. Vemos isso na afirmação paulina: “A ninguém tenho de igual sentimento” (Filipenses 2.20).
O jovem Timóteo se destacou em desenvolver o mesmo sentimento, a mesma atitude do coração do seu líder. Qual era essa atitude? Não buscar os próprios interesses, senão os de Cristo Jesus” (v. 21).
Para termos sucesso no ministério, desfrutando da nossa porção e direito, é necessário não buscarmos os próprios interesses. Deus nos chamou para sermos a resposta d’Ele para as necessidades das pessoas. Precisamos desenvolver cada vez mais esse coração de servo, revelado pelo próprio Jesus: “não vim para ser servido, mas para servir e dar a própria vida em resgate por muitos” (Mateus 20.28).
O Mestre falou isso quando corrigia os discípulos por estarem querendo ser o maior ou o primeiro entre eles. Estavam com a intenção errada no coração. Em outras palavras, Jesus deixou claro: no meu ministério, não temos que buscar evidência, mas, sim, procurar servir às pessoas em suas necessidades.
Paulo seguiu isso. Ele autodenominou-se como “imitador de Cristo” (I Coríntios 11.1). E vemos evidências disso em seu ministério. Em suas cartas, Paulo deixava claro o seu cuidado pelas pessoas. Aos coríntios, depois de listar as perseguições e adversidades que enfrentava, tais como açoites, apedrejamento, prisões e naufrágios, ele destacou: “além dessas coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com todas as igrejas” (II Coríntios 11.28).
Que preocupação era essa? Se elas estavam saudáveis financeiramente ou se os templos eram grandes? Não! Não se tratava de preocupação pelas instituições, pois essa não deve ser a prioridade, embora, como líderes, precisamos também atentar para isso. No versículo seguinte, Paulo explicou: “Quem enfraquece, que também eu não enfraqueça?…” (v. 29).
A preocupação dele não era “com o quê”, mas “com quem”. Tratava-se de pessoas! Sim, é por causa delas que estamos no ministério. Toda instituição, organização, finanças, templos, eventos, etc. só devem existir por causa das pessoas, para alcançá-las. Elas devem sempre ser a prioridade de um bom líder. Tem muita gente precisando ser salva, cuidada, restaurada, curada, visitada, admoestada, etc. Por elas, Deus nos chamou para servir no ministério. Sim, teremos uma boa porção e alguns direitos e privilégios enquanto cumprimos a nossa missão. Mas o dever nos chama. Não podemos ter direitos sem, antes, cumprirmos com os nossos deveres.
Foi justamente por essa inversão de valores que os pastores de Israel foram severamente corrigidos por Deus em Ezequiel 34. “Pastores que apascentavam a si mesmos”, usufruindo da lã e da carne das ovelhas, mas não cuidando delas. Ovelhas ficavam fracas e não eram fortalecidas. Ovelhas ficavam doentes e não eram medicadas. Ovelhas eram desgarradas e perdidas, mas não eram buscadas. Longe de nós tal atitude. Deus deixou claro: por mais óbvio que pareça, o papel dos pastores (líderes) é apascentar as ovelhas, cuidar delas. Outra ênfase divina através do profeta foi: “as minhas ovelhas”. Ou seja, apesar de estarem sob os cuidados daqueles pastores, as ovelhas eram de Deus, não deles. Todo líder precisa ter essa consciência. Estamos pastoreando um rebanho que não é nosso, é do Senhor, por isso a Ele prestaremos contas!
Por fim, quero voltar para o contexto inicial. Qual era esse mesmo espírito de Paulo que Tito seguia? A atitude de não explorar os outros e de não ter ganância ou ambição errada no exercício do ministério. Paulo disse: “Não procuro os vossos bens, mas a vós” e “de boa vontade me deixarei gastar por vós”. Esse deve ser o nosso coração como líderes!
Como diz o Ap. Guto Emery: “Ministério não é lugar de fazermos a nossa própria vontade, mas a de Deus”. E também: “Se você não gosta de lidar com pessoas e ajudá-las a resolver os problemas delas, você está no lugar errado”.